07 Apr
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Por Paulo Matielo – Pós-graduado em Engenharia de Segurança e Fundador do CT Nascer


Em toda a atividade humana, seja na indústria, no comércio, serviços, na distribuição de energia e principalmente na área de transporte e movimentação de cargas, existem muitos riscos nas operações.

A base da prevenção de acidentes e emergências, em qualquer área, está no uso do conhecimento para identificação, tratamento e controle dos riscos, através de um processo contínuo de controle e do desenvolvimento da percepção diante das mudanças dos cenários na irrefreável linha do tempo.

A percepção dos riscos só terá eficiência quando for ativada, ou seja, há uma verdadeira intenção de observação do ambiente e dos cenários em mudança contínua. É TER UM OLHAR OBSERVADOR ATIVO E INTENCIONAL – momento em que os “arquivos” do conhecimento são acessados em nossa mente e entramos em sintonia com a atividade, e por onde controlamos os riscos inerentes a ela. 

Um excelente exemplo é o ato de dirigir um veículo, em que devemos ter permanente controle dos riscos com as constantes interferências externas, como: condições do tempo (chuva, granizo, neve, gelo, dia/noite) reflexos de luz, intensidade e variedade de fluxo (motocicletas, bicicletas, pedestres, ônibus e caminhões, animais na pista, atitude de terceiros, consumo de álcool e outras drogas que alteram o nível de consciência e de reflexos, excesso de velocidade, tipo de pistas e nível da sinalização.

No Brasil o DNIT e outros órgãos de trânsito definem as regras de sinalização rodoviária. A sinalização horizontal é um conjunto de marcas, símbolos e legendas aplicados sobre o revestimento de uma rodovia para propiciar condições adequadas de segurança e conforto aos usuários. Contudo, apesar da legislação, sabemos que as instituições não conseguem cumprir em sua totalidade as tais regras estabelecidas nos projetos das vias e quando aplicadas não são realizadas as manutenções requeridas, contribuindo assim para o elevado número de acidentes que temos em nosso país. 

A malha rodoviária federal do Brasil possui atualmente extensão total de 75,8 mil km, dos quais 65,4 mil km correspondem a rodovias pavimentadas e 10,4 mil km correspondem a rodovias não pavimentadas.

Já os Estados Unidos possuem mais de 6,5 milhões de quilômetros de estradas, o equivalente a 162 voltas ao redor da Terra. 

O Painel CNT de Consultas Dinâmicas de Acidentes Rodoviários reúne dados da Polícia Rodoviária Federal sobre acidentes ocorridos em rodovias federais brasileiras no período de 2007 a 2021. É possível, por exemplo, saber quais são as rodovias onde ocorre o maior número de acidentes e mortes, os tipos de acidentes mais frequentes e quantos ciclistas e motociclistas morrem por ano nas rodovias do país. 

Segundo dados da PRF, no ano de 2017 somente os estados da região sudeste e sul registraram 55.427 acidentes, enquanto todos os outros registraram 34.091. Esses dados podem ser avaliados quando se compara o tamanho da frota de veículos por região.

As estatísticas não podem ser simplesmente um conjunto de números e mapas para mera constatação de frequência e gravidade dos eventos, mas sim e acima de tudo, uma fonte de estudos para a tomada de ações e definições para o estabelecimento de uma política de enfrentamento do problema, que além das perdas humanas e materiais. segundo a ONU, o Brasil usa 3% do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de R$ 220 bilhões, para pagar os custos decorrentes dos acidentes de trânsito. Esse cálculo engloba, majoritariamente os custos com saúde.

Pontos de acidentes no Brasil em 2017 segundo estatísticas do DENATRAN

É possível identificar no mapa a intensa concentração de ocorrências nas regiões metropolitanas onde há maior concentração de veículos. 

A grande questão é: COMO MUDAR ESTA TRISTE REALIDADE? O investimento na educação e conscientização contínua, já a partir nos primeiros anos escolares, uma legislação eficientemente aplicada e a qualidade da infraestrutura viária, formam a base para o desenvolvimento de uma cultura prevencionista. Uma rodovia bem sinalizada, horizontal e verticalmente, reduzem em muito o potencial de acidentes.

SINALIZAÇÃO FOTOLUMINESCENTE

 A sinalização fotoluminescente vem ganhando muito espaço e variedade na sua aplicação. Amplamente aceita e reconhecida pelos Bombeiros na definição dos planos de prevenção e combate a incêndio e emergências, são as placas, linhas e símbolos fotoluminescente para identificação de agentes extintores e rotas de fuga.

APLICAÇÃO EM RODOVIAS 

A primeira rodovia com marcações que brilham no escuro é aberta na Holanda em 22 de outubro de 2014. Os motoristas são guiados por marcações que brilham no escuro propiciando um aumento da visibilidade e a segurança da via. Chamada de Smart Highway pela Glowing Lines (construtora local) mesmo que em nenhum dos conceitos envolva conexão com a Internet, elas certamente são inteligentes no sentido de ser ambientalmente seguras e sustentáveis, já que não envolvem o consumo de energia elétrica. O conceito foi desenvolvido por meio de várias interações e testado quanto à durabilidade e experiência do usuário.

A tinta luminescente que é carregada pela energia solar durante o dia e brilha por até 10 horas quando escurece. Isso significa que as marcações rodoviárias têm maior visibilidade do que aquelas que usam tinta padrão, embora ainda não precisem de eletricidade e reflexo luminoso.  A sinalização que brilha no escuro é também especialmente útil para pedestres ou ciclistas com intensidade de luz frontal insuficiente. 

Para ciclovias e vias verdes, a marcação fotoluminescente funciona como um guia de luz que delineia o percurso da via, proporcionando visibilidade de até 80 m.

A iluminação convencional em caminhos no escuro evidentemente não poderá ser dispensada para melhor visibilidade e mais segurança. Os caminhos fosforescentes oferecem uma alternativa única quando por qualquer motivo falte a energia para a iluminação convencional. Há vários anos existem projetos interessantes em vários lugares do mundo nos quais calçadas, ciclovias e rodovias são equipadas com materiais luminescentes. 

À noite, o menor obstáculo torna-se uma armadilha para a circulação de pedestres, seja em áreas sem iluminação pública e/ou cidades que apagam a iluminação pública parte da noite. O desafio é então facilitar a mobilidade noturna dos usuários nos vários ambientes e atividades com marcações projetadas estrategicamente com tinta luminescente para garantir mobilidade e orientação no escuro, assim como a identificação de rotas, equipamentos ou qualquer obstáculo em área de trabalho que envolva um risco a ser controlado. Sem dúvida, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que tenhamos uma aplicação mais efetiva de novas tecnologias para prevenção de acidentes.

A ampliação do uso da tecnologia de fotoluminescente propiciará o aumento e a garantia da segurança das pessoas nas rodovias, nos processos industriais e atividades de lazer, propiciando verdadeiramente a “magia” de dar brilho, beleza e segurança ao ambiente. Hoje em dia, por exemplo, já existem os veículos autônomos com sensores que podem se antecipar, identificar e principalmente evitar um acidente, contudo, não é uma tecnologia que a grande coletividade tem ou terá acesso. Possivelmente, chegará o dia em que os acidentes de trânsito serão meras histórias do passado, mas até lá, precisaremos canalizar esforços para reduzir esse triste e impactante número de perdas humanas e materiais a cada dia no Brasil e no mundo. A tecnologia fotoluminescente na aplicação dos vários sistemas de sinalização e comunicação visual pode contribuir muito para a redução da frequência e gravidade dos acidentes.

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